domingo, junho 11, 2017

Vontade de desenhar

Continuo para aqui sentado, perna esticada, a secar. Ter os movimentos condicionados é chato (terrível seria expressão exagerada, caríssimo leitor; mais adiante iremos reflectir sobre isso mesmo), surpreendentemente muito mais chato do que era capaz de imaginar olhando outra pessoa nas mesmas condições em que me encontro.

Imagino (tento imaginar!) como será um gajo poder movimentar-se com eficácia motora mas estar emparedado, prisioneiro num espaço exíguo. Querer e não poder dar mais que cinco passos seguidos em linha recta; terrível! Isto sim, será certamente algo terrível. Esta merdice que por ora me atormenta irá ser debelada. A lesão diluir-se-à no tempo e com o tempo, desaparecerá de forma discreta, a contrastar com a estridência estapafúrdia da sua chegada, serei livre de novo.

Pensei que esta pasmaceira, esta imobilidade, imaginei que estar assim, sentado horas a fio fosse propício ao desenho. Pedi À minha filha um certo bloco, rodeei-me de lápis e canetas. Já lá vão dois dias e... nada. Nem sequer vontade de desenhar.

Talvez a minha vontade de desenhar resulte da liberdade de movimentos, talvez o apetite pela criação me exija alguma capacidade de levar o cérebro daqui para ali. Talvez alguns consigam criar quando estão em cativeiro ou sintam necessidade de se expressar quando têm o cu irremediavelmente agarrado ao tampo de uma cadeira.

Agora que reflecti um pouco sobre este assunto talvez seja capaz de desenhar alguma coisa.

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