terça-feira, maio 20, 2014

Admirável país novo

Continuamos a tratar os nossos alunos como animaizinhos de circo. Treinamo-los na repetição de tarefas, oferecemos-lhes um doce quando cumprem com sucesso o comando que lhes é dado e ficamos todos satisfeitos (pais, professores, ministro, técnicos especialistas, auxiliares de educação, pessoal administrativo, tios, primos, avós, padrinhos e demais encarregados de educação) quando nos momentos de maior pressão, na realização de testes de exame, a maioria dos meninos alcançam médias a rondar a fronteira da negativa. 

É um triunfo, a marca do sucesso do nosso sistema educativo. Se a coisa funcionar assim, poucos cidadãos irão ficar incomodados com o facto de que a maioria dos meninos não seja capaz de argumentar a sustentação de um ponto de vista de forma lógica e fundamentada. 

Não é que eles não tenham essa capacidade, simplesmente não são estimulados a fazê-lo porque não há tempo. Há um programa a cumprir, muitos meninos na sala, alguma confusão, muito açúcar ao pequeno-almoço, não sobra espaço para grandes conversas que não se cinjam estritamente à “matéria”, preferencialmente a “matéria” de exame. 

Eles são treinados: primeiro para copiar o que o professor escreve no quadro e decorar os textos dos manuaizinhos, depois para perceber a melhor forma de debitar tal e qual a informação retida no local correcto. 

A coisa resume-se muito a isto; trabalha-se com os meninos como se trabalha com macaquinhos acrobatas ou leões anestesiados, faz-se da escola uma arena de circo, os professores são como domadores. Um dia mais tarde os meninos serão adultos e, com alguma sorte, continuarão a ser acríticos, a torcer o nariz sempre que lhes cheira a discussão de ideias, dóceis como carneiros de cada vez que os chefes e os poderosos lhes abram os olhos e os mandem obedecer. 

É este o desígnio do nosso sistema de ensino? Assim se constrói um admirável país novo.

2 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

E julgo que os professores cada vez tem menos margem para inovar. Certo?

Silvares disse...

Caro Jorge, como inovar num universo dominado pela INTERNET? Já resta pouco espaço para a Maravilha.