quarta-feira, março 30, 2011

Ver a vida viver


A banalidade é uma coisa maravilhosa quando a olhamos com atenção. É espantoso verificar como a banalidade ganha contornos de coisa extraordinária quando a isolamos no nosso pensamento. Uma mulher que cospe para o chão na paragem de autocarro, três outras que conversam num grupo com grande atenção à que fala e que parece crescer por ter ouvidos abertos às suas palavras, um homem magro com o ombro na parede e o telemóvel encostado ao ouvido num gesto de descontracção absolutamente ofuscante. Rolar nas ruas da cidade com banda sonora dentro do habitáculo do automóvel, sem destino certo nem angústias de urgência, é algo banal que proporciona momentos de uma beleza rude e suja, uma beleza que talvez não chegue a sê-lo. Hoje roubei uns minutos ao meu dia para ir ver a vida a viver no meio do betão, do metal andante e do lixo esvoaçante. Sem palavras, com Lou Reed em pano de fundo.

3 comentários:

Jorge Pinheiro disse...

Tinha um amigo que desenvolveu uma teoria da mediocridade. Uma coisa avançada. Provava que os felizes eram os mediocres. Será?

Silvares disse...

Possivelmente... Jà os catolicos dizem que o reino dos céus é coisa para os pores de espírito!

Jorge Pinheiro disse...

Pois...