sábado, outubro 03, 2009

Estados de alma


A vida tem destas coisas. Na edição de hoje do Público vem uma noticiazinha bastante cinzenta sobre um inquérito feito em 33 países com o objectivo de medir a auto-estima dos povos. "O trabalho, elaborado por uma empresa internacional de consultoria, o Reputation Institute, pediu a cidadãos de diferentes nacionalidades que pontuassem a confiança, o respeito, a admiração e o orgulho relativamente aos respectivos países."

Portugal lá está no fundo da tabela, em 4º a contar do fim, confirmando o que já se suspeitava: somos tristongas a gastar, os "latinos tristes", como alguém nos designou depois de passar cá um par de semanas a apanhar sol na mona. A notícia segue em ritmo zombie com declarações dos senhores do costume. De um lado Vasco Graça Moura a clamar contra o abandono da Cultura (bem pode ir pregar pró deserto) e do outro o sociólogo Manuel Villaverde Cabral que desbobina umas ideias mais curiosas sobre a forma como a auto-estima se manifesta. Tudo normal (bocejo) até reparar nos 3 últimos lugares da lista.

No fundo o Japão. Pronto, está certo, aquilo afinal é uma ilha grande e os japoneses levam a vida muito a sério e vivem mais tempo que os ocidentais e tudo, por serem tão capazes de fazerem as coisas bem feitas. Mas isso não proporciona felicidade a (quase) ninguém.

Em 2º a contar do chão está a África do Sul. Caramba, pudera, ainda devem andar a curtir a depra de terem vivido tantos anos num regime de apartheid e, uma vez saído do inferno, o país não consegue realizar os sonhos de igualdade, teimando em viver um pesadelo complicado.

Em 3º, mesmo atrás de Portugal... está o Brasil!!! Quem diria? Lendo o resto do jornal encontramos brasileiros em delírio absoluto graças à notícia da eleição do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Uma festa carnavalesca. Além disso, a notícia enfatiza a ideia de que, por alturas dos Jogos no Rio, o Brasil será, provavelmente, a 5ª economia mais poderosa do planeta. Então porque está o Brasil atrás do país do Fado e do choradinho neste ranking mal amanhado? Por mais voltas que dê à cabeça só encontro uma explicação ou duas; é herança genética ou então a tristeza vem agarrada à língua portuguesa como lapa vai agarrada na rocha. Não somos nós que dizemos que não há tradução para "saudade" seja qual fôr a língua que tente explicá-la? Pois concerteza, se a saudade é um exclusivo lusófono muita coisa está explicada.

6 comentários:

Anónimo disse...

Taí, será que se pode levar à sério essa pesquisa?????
Li outra, dia desses, que haviam morrido "misteriosamente", 100% dos barbeiros de uma pequena vila mineira! Havia um só barbeiro no lugar!!! srsr

Lina Faria disse...

Eis uma questão que eu empiricamente reflito. A palavra 'saudade' faz sentido aos lusos que ja foram grandes navegadores a conquistar o mundo.
Já aos brasileiros, saudades de que (exclamação) Do achaque, de seus indio dizimados (excl)
É possível.
Agora, a reação do país, e do presidente aos prantos pela escolha do Brasil como sede das Olimpiadas, denota nosso orgulho em ser um país lúdico. Que nascemos para o esporte e o carnaval.
Em resumo, como disse De Gaulle, esse não é um país sério!

Silvares disse...

Eduardo, realmente fico sempre a pensar como pretendemos "medir" coisas tão difíceis de ver. A auto-estima a partir deste estudo tem forma e tem peso e coisas assim. Quanto à estranha morte de todos os barbeiros da vila, é anedota mesmo!

Lina, os gloriosos marinheiros eram rufiões que se tornavam muito perigosos com bastante facilidade e praticaram atrocidades magníficas que lhes deram a fama que hoje têm.
A saudade é uma coisinha que se aloja bem no meio do peito, ali ao ladinho do coração e pode crescer até nos devorar o interior quase por completo. Não sei explicar, só sei sentir. Não sinto saudade do passado histórico porque a saudade só se sente por algo que nós vivemos. Normalmente sinto saudade de pessoas que já morreram.

Quanto ao De Gaulle só posso dizer que foi um grande chato meio metido a besta e a França, que é um país a sério, é um país chato como um chão de banheiro.
:-)

Beto Canales disse...

He..
Quanto ao De Gaulle só posso dizer que foi um grande chato meio metido a besta e a França, que é um país a sério, é um país chato como um chão de banheiro.

hehehe... sensacional

Silvares disse...

Beto, confesso que a França não me fascina particularmente. Estive apenas em Paris por duas ocasiões. Não foi tanto a cidade que me chateou, foram mais os cidadãos. De todos os lugares que já visitei, os praisienses detêm a medalha de "os mais chatos". E mereceram a medalha sem adversários à altura.

peri s.c. disse...

Brasil pode até ser a 5ª economia mundial, mas essa dinheirama toda está na mão de pouqíssimos, já que somos um dos campeões mundiais da concentrção de renda .
Em IDH ( Indice de Desenvolvimento Humano ) somos o 75º colocado .
O povo se encanta com o palavrório presidencial , mas sabe que continua na merda ...