sábado, novembro 29, 2008

O atestado médico (ou O elogio da mentira)


O texto que se segue foi-me enviado por Carlos Melo do blogue Kriu. Trata-se de um blogue com textos sobre temas muito variados com uma coisa em comum entre todos eles, são invariavelmente textos interessantes que reflectem sobre questões de extrema actualidade. Encontrei o mesmo texto num outro blogue E Esta, Hein? com data de 2006. Dois anos mais tarde continua tudo na mesma. Como a lesma. A actualidade é uma questão de acesso à informação.





Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter defazer uma vigilância. (...) O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou (...) em cima da sua imaculada camisa. Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. (...) A questão agora é: como justificá-la?

Passemos então à parte divertida.

A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. (...) O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente. (...)

Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente. (...) O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. (...) adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses.
Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros.
Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza.
Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente.
Mente perante si próprio e menteperante o mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame porficar preso no elevador que precisa de um atestado médico.
É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio

URGE MUDAR ESTE ESTADO DE COISAS.
ESTÁ NA SUA MÃO, NA MINHA E DAQUELES A QUEM A MENSAGEM CHEGAR!

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